Problemas/Soluções

Problemas e Soluções

Neste capítulo são apresentados problemas frequentes na Demência de Início Precoce,

bem como soluções e estratégias para lidar com estas dificuldades.

Professor Alexandre de Mendonça

Problemas Cognitivos

Para mais informações, selecione por favor um dos tópicos apresentados abaixo.

Existem 2 áreas nas quais é comum as pessoas com demência revelarem dificuldades:

  • Memorização de novas informações – recordar conversas, acontecimentos do dia anterior e compromissos num futuro próximo ou ainda saber onde se guardaram determinados objectos;
  • Recordação de acontecimentos passados – recordar os nomes de pessoas conhecidas, manter vívidas as memórias antigas.

Para ajudar no processo de memorização de novas informações, pode:

  • Simplificar a informação;
  • Reduzir a quantidade de informação a memorizar mantendo rotinas previsíveis e tendo lugares pré-determinados para guardar os objectos;
  • Reforçar a informação através de imagens e gestos;
  • Utilizar auxiliares de memória como calendários, um quadro onde se possa escrever, instruções escritas ou alertas electrónicos.

Para melhorar a capacidade de recordar acontecimentos passados, pode:

  • Partilhar memórias;
  • Ver fotografias, cartas ou recordações do passado;
  • Falar sobre o passado, por ser agradável e poder reforçar o sentido de identidade.

Algumas notas sobre estimulação cognitiva e treino de memória:

  • Este tipo de intervenção é eficaz em pessoas com dificuldades cognitivas ligeiras;
  • Estes programas podem recorrer a computadores;
  • Este tipo de treino pode ser particularmente agradável quando aplicado em formatos de grupo;
  • Estas intervenções devem ser realizadas por psicólogos ou outros técnicos de clínicas de memória.

Problemas da cognição social e do funcionamento executivo

A cognição social diz respeito à capacidade para estabelecer empatia com as outras pessoas. As pessoas com Degenerescência Lobar Frontotemporal podem:

  • Parecer egocêntricas;
  • Durante as conversas falar apenas de si próprias;
  • Ter atitudes socialmente desadequadas, como dizer a alguém que está gordo ou mexer no cabelo de um desconhecido.

Reconhecer os problemas de linguagem

Os problemas de linguagem incluem dificuldades da capacidade para expressar pensamentos verbalmente e para compreender palavras, bem como alterações de leitura e escrita.

 

Na Doença de Alzheimer, os problemas de linguagem mais frequentes são:

  • Dificuldade em encontrar as palavras certas para expressar determinada ideia;
  • Limitação em compreender frases complexas;
  • Repetição de palavras.

 

As pessoas com Degenerescência Lobar Frontotemporal podem apresentar:

  • Dificuldade em reconhecer o significado das palavras;
  • Discurso hesitante e laborioso;
  • Tendência para parar de falar subitamente;
  • Dificuldade em filtrar o que é dito em voz alta, pelo que podem surgir comentários socialmente desadequados, nomeadamente blasfémias.

 

Que fazer?

Se surgirem dificuldades de comunicação, pode tentar seguir as seguintes estratégias:

  • Assegurar que a pessoa com demência continua a sentir-se bem-vinda e incluída;
  • Assegurar que a pessoa com demência consegue vê-lo bem;
  • Manter contacto ocular;
  • Minimizar ruídos distractores;
  • Falar clara e calmamente, a um ritmo mais lento do que o habitual;
  • Utilizar frases curtas e simples;
  • Utilizar gestos, desenhos ou cadernos de notas para reforçar a mensagem que quer transmitir;
  • Separar as informações complexas em partes mais pequenas;
  • Nos casos de défices graves de linguagem, consultar um terapeuta da fala.

Reconhecer problemas de orientação

A orientação é a conhecimento temporal, espacial e pessoal. Uma pessoa com demência pode:

  • Não saber que dia é ou que horas são;
  • Ter dúvidas sobre já ter tomou determinada refeição;
  • Não reconhecer as caras das pessoas com as quais mantém uma relação há anos;
  • Não reconhecer os membros da sua família;
  • Perder-se, especialmente em contextos desconhecidos ou pouco familiares;
  • Não localizar as divisões na sua própria casa;
  • Nos estados avançados de demência, parecer não saber quem é;

 

Que fazer?

Para ajudar a pessoa com demência a manter-se orientada, pode:

  • Assegurar-se de que a pessoa utiliza os seus óculos ou aparelhos auditivos;
  • Fornecer pistas para a data e hora, por exemplo através de um relógio que, para além das horas, mostre também o dia da semana;
  • Se apropriado, lembrar quem são as pessoas que a rodeiam;
  • Colocar quadros com palavras e imagens nas portas, por exemplo, nas portas das casas de banho ou cómodas;
  • Simplificar o ambiente retirando objectos desnecessários;
  • Evitar a sobre-estimulação causada por ruídos ou programas de televisão ou rádio;
  • Utilizar iluminação suficiente durante o dia;
  • Recorrer a iluminação com sensor de movimento durante a noite, de forma a facilitar o caminho até à casa de banho;
  • Nos casos em que as pessoas estão capazes de circular no exterior autonomamente, preparar uma identificação adequada que contenha também os contactos mais relevantes. A pessoa deve levar sempre esta identificação para ser utilizada em caso de necessidade de assistência.
  • Um aparelho GPS pode ser útil para alguém que se encontra em risco de sair e de se perder.

Reconhecer problemas de visão

As doenças que subjazem à Demência de Início Precoce geralmente não afectam a capacidade de ver. No entanto, podem surgir alterações do processamento da informação visual e da coordenação da visão com o movimento.

 

As pessoas podem revelar dificuldades em:

  • Ler e escrever, por exemplo ao ter que mudar de linha;
  • Ver objectos que estão à sua frente;
  • Encontrar um objecto no meio de muitos outros objectos;
  • Fazer o varrimento visual em contextos complexos – por exemplo, no meio do trânsito;
  • Compreender relações espaciais entre objectos;
  • Estimar distâncias.

 

Se a pessoa de quem cuida apresenta estes sintomas, consulte um médico para excluir outras causas possíveis.

 

Que fazer?

Para ajudar uma pessoa com problemas de visão, pode:

  • Simplificar o ambiente, removendo objectos que não estejam a ser utilizados;
  • Assegurar uma boa iluminação, utilizando luzes de presença à noite;
  • Recorrer aos contrastes de cor, utilizando por exemplo uma toalha de mesa branca com um serviço de porcelana azul;
  • Utilizar um telefone simples com menus de visualização simples;
  • Recorrer a audiolivros e relógios com voz;
  • Consultar um terapeuta ocupacional para implementar estratégias compensatórias.

Actividades da Vida Diária

Para mais informações, selecione por favor um dos tópicos apresentados abaixo.

O facto de as pessoas com demência se manterem activas e ocupadas pode levar a uma melhoria da qualidade de vida em todas as fases da doença.  Para os cuidadores, o facto de participarem em actividades com a pessoa com demência poderá também trazer benefícios, em particular promovendo relacionamentos positivos.

  • Trazer sensações de prazer e diversão;
  • Encorajar a autonomia, a inclusão social, a comunicação e a expressão de sentimentos;
  • Ajudar a manter capacidades;
  • Fazer as pessoas sentirem-se úteis e dar-lhes um propósito de vida;
  • Aliviar a depressão e a ansiedade.
  • Manter um bom relacionamento;
  • Promover momentos de diversão mútua e companheirismo;
  • Encorajar a cumplicidade

Há formas de apoiar e assistir as pessoas com demência que permitem ao cuidador tirar partido destes benefícios mútuos. Como cuidador, aconselhamo-lo a tentar não substituir a pessoa com demência em demasia, mesmo que o facto de ser a pessoa a realizar as tarefas por ela própria implique mais tempo e o resultado seja menos perfeito.

Nas Fases Inicias da Demência

  • Dar à pessoa a ideia de realizar determinada actividade;
  • Manter a pessoa focada na actividade que está a realizar.

Quando a Pessoa com Demência Começa

a Revelar Mais Dificuldades

  • Mostrar à pessoa os objectos necessários para realizar a actividade em questão;
  • Relembrar onde pode encontrar os objectos;
  • Separar as tarefas mais complexas em passos mais simples;
  • Relembrar a pessoa dos passos para realizar a actividade.

Ao Procurar Actividades Adequadas

  • Tente encontrar uma actividade que a pessoa com demência gostava de realizar no passado;
  • Modifique essa actividade para que possa ser realizada, apesar das dificuldades que a pessoa apresenta;
  • Foque-se na diversão e no companheirismo, não no resultado da actividade;
  • Tente ser paciente e disponibilizar bastante tempo. Faça intervalos se necessário;
  • Com frequência encoraje e reforce positivamente o comportamento;
  • Simplifique as instruções e os lembretes.

Apoio na Realização de uma Actividade

Pequeno-Almoço

O primeiro vídeo exemplifica diferentes estratégias de apoio à realização de actividades, nomeadamente:

  • Manter a atenção;
  • Recorrer a linguagem corporal;
  • Promover a tomada de decisão;
  • Separar a tarefa em passos individuais;
  • Utilizar um guia visual;
  • Demonstrar as acções a realizar.

Apoio na realização de uma actividade

Preparar-se para sair

O segundo vídeo apresenta várias estratégias que poderá pôr em prática para ajudar a iniciar e manter uma actividade. Estas estratégias incluem:

  • Ultrapassar a resistência inicial relativamente a iniciar uma actividade;
  • Facilitar a selecção da actividade;
  • Ajudar na utilização dos objectos;
  • Recordar as instruções através de pistas verbais;
  • Implementar uma rotina de organização

Problemas na gestão do dinheiro e na condução

No terceiro vídeo, o cuidador fala sobre as dificuldades que passou com os gastos de dinheiro da sua mulher e de como foi difícil para si impedir que ela conduzisse quando este acto se tornou perigoso. No vídeo são mencionadas várias soluções úteis para lidar com este tipo de problemas.

Saúde física

Para mais informações, seleccione por favor um dos tópicos apresentados abaixo.

Doença de Alzheimer

A Doença de Alzheimer não causa problemas de motilidade nas fases iniciais. Contudo, nas fases mais avançadas, as pessoas podem desenvolver alterações de movimento semelhantes aos encontrados na Doença de Parkinson, tais como:

  • Rigidez dos membros
  • Marcha arrastada
  • Lentificação dos movimentos

 

Degenerescência Lobar Frontotemporal

As pessoas com Degenerescência Lobar Frontotemporal podem também desenvolver problemas relacionados com o movimento, nomeadamente:

  • Sintomas de Paralisia Supranuclear Progressiva, com limitações nos movimentos oculares, aumento do risco de quedas, dificuldade na articulação verbal e problemas de deglutição;
  • Sintomas de Síndrome Corticobasal, incluindo dificuldades em realizar movimentos hábeis com as mãos, movimentos involuntários dos membros, não reconhecer como sua uma das mãos e assumir posições pouco habituais;
  • Sintomas de Esclerose Lateral Amiotrófica, com cãibras, diminuição de força, perda da massa muscular e dificuldades de deglutição e de respiração.

 

Que fazer?

Se surgirem estas alterações do movimento é importante que consulte um neurologista, a fim de:

  • Confirmar o diagnóstico;
  • Começar a tomar medicação, se necessário;
  • Ser encaminhado para fisioterapia, incluindo treino de resistência, equilíbrio e flexibilidade;
  • Adquirir dispositivos de apoio adequados para ajudar a andar e a respirar;
  • Prevenir potenciais riscos para a pessoa com demência.

As quedas são frequentes nas demências. Os factores de risco mais relevantes para as quedas são:

  • Falta de actividade física
  • Problemas de visão
  • Toma de múltiplos medicamentos
  • Tensão arterial baixa
  • Tonturas
  • Consumo de álcool
  • Doença de Parkinson
  • Demência por Corpos de Lewy

 

É importante avaliar se algum destes factores acresce ao risco de queda da pessoa com demência para que, quando possível, se actue sobre os mesmos. O risco de queda pode ser diminuído através de:

  • Actividade física regular;
  • Remoção de objectos que não estão em uso e de obstáculos;
  • Colocação de corrimãos e pegas para agarrar, se necessário;
  • Sapatos antiderrapantes;
  • Redução da medicação, segundo indicação médica;
  • Correcção dos problemas de visão.

 

Os protectores de anca não reduzem a possibilidade de queda mas diminuem a ocorrência de fracturas.

Nas demências existem problemas relacionados com nutrição. Estes tendem a revelar-se particularmente difíceis de resolver nas fases mais avançadas da doença:

  • Subnutrição e perda de peso;
  • Dificuldades na deglutição.

 

Por vezes, as pessoas com Degenerescência Lobar Frontotemporal podem não ser capazes de parar de comer alimentos doces.

 

Perda de peso

Os factores que podem levar à perda de peso incluem:

  • Alterações do apetite;
  • Diminuição do paladar e do olfacto, tornando os alimentos pouco agradáveis;
  • Esquecer-se de comer;
  • Incapacidade para reconhecer e distinguir os alimentos;
  • Dificuldades na utilização de pratos, copos e talheres;
  • Problemas de deglutição;
  • Diminuição da capacidade para expressar fome, devido a dificuldades de linguagem;
  • Depressão, ansiedade e agitação;
  • Problemas dentários;
  • Obstipação ou diarreia;
  • Inquietação, impedindo a pessoa de se sentar tranquilamente para uma refeição;
  • Alterações do sono, resultando num aumento do número de horas acordado com maior actividade e gasto de calorias.

 

Que fazer para lidar a perda de peso?

Para lidar com problemas nutricionais e perda peso, pode:

  • Falar com um clínico para excluir causas médicas;
  • Pensar em formas de tornar as refeições em momentos agradáveis;
  • Incluir a pessoa com demência na preparação das refeições;
  • Oferecer frequentemente lanches e refeições leves;
  • Utilizar sabores fortes;
  • Dar a experimentar novos alimentos que não tenham sido provados previamente;
  • Tomar as refeições em conjunto;
  • Cortar os alimentos em pedaços pequenos ou em formato de finger food;
  • Em casos de perda de peso grave, ponderar a toma de suplementos alimentares.

 

Apoio na alimentação

Nos casos de demência avançada, as pessoas poderão necessitar de ser alimentadas. Nestas situações:

  • Não apresse a pessoa;
  • Promova a independência da pessoa, dentro do possível;
  • Utilize a linguagem corporal e os gestos como meios de comunicação.

 

Problemas na deglutição

Se a pessoa com demência apresenta dificuldades de deglutição, havendo assim risco de se engasgar, pode tentar o seguinte:

  • Preferir alimentos fáceis de mastigar e engolir;
  • Oferecer os alimentos em pedaços pequenos e com molho;
  • Oferecer líquidos mais espessos do que a água;
  • Consultar um terapeuta com experiência nesta área.

 

É possível alimentar as pessoas através de um tubo que parte do nariz e chega ao estômago (Sonda Nasogástrica) ou introduzindo directamente os alimentos no estômago (PEG – Gastrostomia Endoscópica Percutânea). No entanto, optar por estas medidas em pessoas com demência avançada é controverso e deve ser avaliado cautelosamente por uma equipa médica especializada em cuidados, pesando os benefícios e os riscos deste tipo de intervenção.

Frequentemente as pessoas com demência apresentam alterações dos padrões de sono, tais como:

  • Sono fragmentado;
  • Dificuldade em adormecer;
  • Sono pouco reparador;
  • Aumento da sonolência diurna.

 

Causas

As principais causas dos problemas de sono são:

  • Outros problemas médicos, cãibras ou dores;
  • Medicação;
  • Actividade física associada aos sonhos (sonambulismo);
  • Alteração dos ritmos circadianos, provocando troca da noite pelo dia;
  • Factores ambientais (barulho, luz, calor ou frio).

 

Que fazer?

Para gerir os problemas de sono, pode tentar o seguinte:

  • Manter os padrões de sono e vigília habituais da pessoa com demência;
  • Manter a mesma rotina antes do momento de deitar que a pessoa tinha no passado;
  • Assegurar um nível de actividade significativo durante o dia, ou mesmo aumentar a actividade e o tempo ao ar livre;
  • Evitar as sestas depois do almoço, ou torná-las curtas;
  • Ingerir menos bebidas à tarde e à noite, especialmente chá, café ou álcool;
  • Assegurar-se de que o quarto está escuro e silencioso;
  • Para efeitos de segurança e ajuda na orientação, pode usar luzes automáticas que acendem quando a pessoa sai da cama;
  • Pode ainda falar com um médico sobre a possibilidade de receitar comprimidos para dormir, embora se devam usar com prudência as benzodiazepinas, dado que podem agravar a confusão mental.

Causas médicas

As pessoas com demência podem ter dificuldades em utilizar a casa de banho, o que pode levar a acidentes e incontinência. Existem causas médicas para estes problemas, tais como:

  • Infecções do tracto urinário;
  • Nos homens, problemas da glândula prostática;
  • Obstipação ou diarreia.

 

As causas médicas apresentadas anteriormente devem ser excluídas pelo médico, dado que algumas delas são tratáveis.

 

Causas não-médicas

Para além dos problemas médicos, existem muitas outras causas para os acidentes e problemas ao utilizar a casa de banho, nomeadamente:

  • Incapacidade para identificar a necessidade de ir à casa de banho;
  • Insucesso ao tentar chegar à casa de banho a tempo;
  • Dificuldades em encontrar, reconhecer ou utilizar a casa de banho;
  • Dificuldades em despir a roupa.

 

Que fazer?

Há várias formas de ajudar a pessoa com demência a continuar a ser capaz de utilizar a casa banho e evitar acidentes e incontinência:

  • Manter um horário fixo para utilizar a casa de banho;
  • Assegurar uma ingestão adequada de líquidos, evitando demasiadas bebidas durante a tarde e à noite;
  • Sinalizar a casa de banho com um letreiro que inclua palavras e um desenho;
  • Proporcionar uma boa iluminação, especialmente à noite;
  • Para as pessoas com problemas de mobilidade, instalar corrimãos e um assento de sanita elevado;
  • Facultar à pessoa com demência roupas fáceis de despir, como por exemplo peças com fechos de velcro, mais fáceis de utilizar do que aquelas com fechos de correr ou botões;
  • Se os problemas na casa de banho ou a incontinência persistirem, consulte a enfermeira do centro de saúde ou o seu médico para se aconselhar sobre os dispositivos de apoio para a incontinência;
  • Fale com o seu médico que pode eventualmente prescrever uma receita adequada ao problema em questão.

 

Professor Alexandre de Mendonça

Conclusão

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